Jesus e José de Arimatéia
-"Eu sei, José o Sinédrio sempre esteve contra aqueles que se opões aos seus princípios. No passado, vários profetas foram perseguidos ou simplesmente ignorados pelos homens vestidos de púrpura e linho que se dizem representantes de Deus. Há quatro séculos não surgia um profeta em Israel por culpa da ingratidão desse povo que mata aqueles que dizem a verdade em meu nome. A sanha dos sacerdotes contra o amor sobrepuja a frágil fé, recheada de interesses pessoais e mesquinhos. Sabes bem o que pensavam de João Batista que não perseguiram, mas não acreditaram nele, ao contrário, deram-lhe o desprezo que muitas vezes fere mais que o chicote."
- "José, a missão que meu Pai me confiou teve começo e deverá ter fim. Aquele que pegou na charrua não deve olhar para trás. Assim, o que disse eu ao povo durante todo o tempo e lugar é a mensagem do Pai aos homens. Dessa forma, cumpro o que me foi determinado. Suavizar meu discurso significa adiar a verdade, ou mesmo omiti-la, e não há mais tempo a perder, pois a hora é chegada. José, ouve, não estou desafiando o Sinédrio e a minha conduta não denota imprudência. Chegou o momento do mundo receber a luz e ela se fez em Israel. Feliz aqueles que viu e acreditou, pois por muito, muito tempo não tornareis a me ver."
-"O povo aguarda a queda de Roma libertando-os de suas garras julgando ser essa a causa dos sofrimentos. Porém, o mal não é César, e sim o que carregam nos corações. Contam com uma revolução liderada pela violência a fim de alcançarem a paz... Em verdade vos digo, a sublevação é portadora de sangue e morte e não haverá solução para a rebeldia enquanto o íntimo de cada um estiver dominado pela inconformação e nele habitar o anseio de poder e riquezas externas. José, em nome de meu Pai não haverá motins por motivo algum, pois Ele não arromba a porta de nenhum coração..."
-" Compreendo tuas dúvidas, José, e digo que tuas palavras representam também incertezas de muitos que aqui estão e que ainda virão no futuro. A mensagem que trago dos céus é a paz verdadeira que só se conquista quando não ferimos e nem magoamos a ninguém. Como entender a imposição de um pensamento se ele fere a alguém a quem queremos ensinar? Como aceitar procedimentos de alguém que no suposto desejo de ajudar a esclarecer causa divisão, sofrimento, perseguição e morte? Por isso, onde estiveres leva a mensagem do Pai sem contudo exigir prosélitos à força da espada. Creia-me, o futuro trará perseguições aos seguidores do Evangelho em todo mundo. A morte visitará muitos lares e aquele que falar em meu nome será forçado a se calar. Por longos anos o ódio, a escravidão e a miséria farão companhia aos defensores da Boa Nova. Oh! José! Infelizmente os séculos futuros serão dominados por aqueles que dirão representar-me na Terra.... E não haverá guerra que extermine mais do que as patrocinadas em meu nome...!"
-"Porém em verdade vos digo que o Sinédrio ainda não matou o último profeta. O filho do Homem será sacrificado dentro de poucos dias, saciando o ódio e a ânsia de poder desses pobres homens. Mas não conseguirão exterminar a minha mensagem que é eterna."
-"José, tua visão está circunscrita a esta vida apenas. É natural que assim seja, mas afianço-te que o mal quase sempre é o remédio salvador. A fuga é atitude daqueles que temem a justiça humana e não conhecem a justiça divina. O pior não é a morte do corpo perecível, e sim o remorso a queimar num fogo sem-fim a alma covarde. A vida que o Pai nos concede é uma sucessão de atitudes que formam um grande livro que servirá de consultas no futuro. E o pior, José, nesse momento, seria deixar página em branco. Na viagem da vida, haverá para todos uma bifurcação. Uma leva à verdade, a outra ao sofrimento. As aparências enganam até os olhos mais vigilantes e no momento, aparentemente, minha vida corre perigo, no entanto, caso venha a fugir salvando-a, esteja certo, perdê-la-ei a morte atingirá a Boa Nova."
-"José, olha para mim. Ouve, teus olhos assistirão a cenas dramáticas, violentas e que não sairão de tua memória. Porém, não penses em fracasso, pois não raro, diante dos homens, perder nem sempre é ser derrotado. Tem confiança no Pai e em mim. O amor vencerá."
(Texto extraído do livro - "Os últimos seis dias de Jesus" - Jamiro dos Santos Filho - editora Panorama)
